Porta dos fundos
526 de maio de 2014 por Felipe Tavares
Antes de começarmos este post, vamos nos dar a mão(?!) e assistir ao vídeo Restaurante Moderno do Porta dos Fundos juntos – Vai que você estava morando em outro planeta nos últimos dias e ainda não viu.
Sensacional?
( ) Claro
( ) Lógico
( ) Calma ai. Deixa eu ver de novo que eu ainda não parei de rir
Esse vídeo tem tido uma repercussão monstro no meio gastronômico e agradeço aos vários leitores e amigos que me mandaram o link, em especial o Mateus Sandim.
Tá, e aí? O que falar desta crítica incrível que eles estão fazendo?
A popularização da gastronomia, como tudo na vida, tem o lado bom e ruim. De um lado, várias pessoas vão se capacitando e estudando, crescem as ofertas de emprego, surgem novos restaurantes e tudo vai ficando lindo.
Já do outro lado, temos as consequências dessa popularização. Graças as revistas, internet, supermercados “gourmets”, TV a cabo e etc. todo mundo hoje acha que entende de gastronomia e dos seus conceitos.
Mas péra lá: isso não torna ninguém um crítico gastronômico e muito menos um cozinheiro. Não é porque fulano viu toda a temporada de “Cozinhando com Jamie” e comprou todos as revistas “Caras” com os utensílios de cozinha que ele se tornou o Gordon Ramsay ou a Alexandra Forbes.
Foi nessa bagunça toda aí que o termo “gourmet” se ferrou. Pessoas que não entendem de nada saíram prostituindo o termo e, de repente, tudo se tornou gourmet: cachorro quente gourmet, feijoada gourmet, brigadeiro gourmet…(Para mais exemplos toscos, acesse o ótimo Gourmetização da Vida)
Notal mental: parar de falar “gourmet”
E é por isso que o vídeo se torna tão genial e polêmico.
Dê um lado um chef de cozinha que aplica algumas técnicas da cozinha tradicional e tecnicoemocional de qualquer forma, sem qualquer referência ou embasamento, apenas para estar na moda, fazendo culinária “contemporânea”.
Já do outro, temos um comensal que não acha o serviço complicado e sim “moderno”, acho o máximo ter conseguido uma reserva depois de três anos e ainda solta a pérola “não para de vir comida”. Ele se acha “O Cara” por entender esse conceito de culinária e se vangloria todo o tempo. Afinal, ele deve ter visto meia dúzia de programas na televisão e já se tornou o expert em gastronomia.
Pode parecer absurdo, mas os dois tipos – chef e comensal – estão mais presentes que nunca nos restaurantes do Brasil e do mundo.
Temos centenas de chefs e “magos da cozinha” fazendo merdas e falando: “Ah, você não entende minha gastronomia, isso é o futuro!” Sendo que não sabem nem fazer um arroz com feijão bem feito. Como temos também milhares de “trouxas” pagando rios de dinheiro para estarem em restaurantes modernos e badalados para verem e serem vistos degustando um menu que “não para de vir comida”.
Nesse mundo gourmetizado, quem sobra mesmo é só o garçom.
Abraços vendo o vídeo pela vigésima vez,
Felipe Tavares
Felipe, vale uma boa reflexão, a gourmetização da gastronomia também tem me incomodado bastante. Confesso que o video é sensacional, mas existem profissionais que trabalham um menu degustação surpreendente, é importante saber que cultura temos e como iremos aceitar este menu degustação, o menu deve satisfazer e a questão multisensorial não deve ser agressiva e tosca, mas interessante e atraente. Parabéns pela escolha do assunto.
Chef,
Você como um educador, tem um papel fundamental neste processo e tenho certeza que seus alunos terão uma visão correta da gastronomia.
Sou super a favor do menu degustação e adoro quando o chef consegue mostrar toda sua técnica e influências em vários pratos. Pena que muitos só copiam ideias e receitas e as reproduzem de qualquer forma.
Obrigado pelo comentário!
Abs.
Acho MUITO engraçado quando vc põe “prostituindo o termo” e “feijoada gourmet” na mesma frase. Alias, isso me lembra uma das primeiras conversas que tivemos hehe
Toda essa reflexão é uma coisa muito complicada. Tem gente que se acha TOP (não é assim que vc fala?) por fazer uma boa comida gourmet, enquanto a Chefe que é prima da vizinha da sogra da namorada do amigo faz o mesmo prato, com a mesma receita, de uma forma diferente e não fica tão bom.
É tipo aquela questão: A pessoa foi em um restaurante e pediu um prato diferente. Tirou foto, botou um efeitozinho e postou no Instagram e se achou fotógrafo. É a Fotografia Gourmet. Não, pera…
Já fiz um post chamado “Putinhas da Cozinha” falando como são raros funcionários fiéis, que eles trocam de emprego por $50 ou uma folga. E agora vem a prostituição do termo para fazermos uma orgia gastronômica HAHAHAHA
Agora é sério, esse assunto realmente é tenso pq cada um tem uma interpretação diferente de um restaurante, comida, etc. Mas feijoada gourmet realmente não rola.
Daqui há pouco vão surgir as agências de fotografia gourmet, fica esperta ai! rsrs
bjos
Daqui a pouco terá até uma casa de swing gastronômico, tô até vendo! hahahahaha
E já te falei, feijoada tem que ser o mais trash possível, mas depiladinha HAHAHAHAHA
E sobre agências: existem cursos de fotografia “para pratos”, como dizem. Basicamente ensinam a fotografar comida. Ok, tudo bem. Mas de, exemplo, “Fotografia para Cozinha” para “Fotografia Gourmet” é um pulo de gato, meu bem.
Bjos tbm, pq sou educada 🙂 #sqn