O mineiro e o queijo
510 de julho de 2014 por Felipe Tavares
Na última semana acompanhei alguns chefs de cozinha e empresários numa visita à região da Serra da Canastra – MG à convite do programa Origem Minas do Sebrae.
O Origem Minas tem como objetivo valorizar e projetar o agronegócio mineiro nos mercados nacional e internacional e, na região da Canastra em parceria com a Sicoob Saromcredi, a Emater e a APROCAME – Associação dos Produtores de Queijo Canastra de Medeiros, eles tem feito um trabalho incrível de valorização do AUTÊNTICO queijo Canastra.
Destaquei o autêntico aí porque este projeto surgiu também da necessidade de proteger a marca “Canastra” que estava/está sendo usado por queijeiros de outras regiões para “ganharem” um selo de qualidade.
Somente 7 cidades produzem o legítimo queijo Canastra como você pode ver no mapa:
Ou seja, você que compra queijo Canastra de Araxá ou de outra cidade, saiba que está sendo enganado. =/
Quem não é de Minas e não tem uma relação tão próxima com queijo como nós, muitas vezes não entende a complexidade desse tema. Há alguns anos, o documentário “O Mineiro e o Queijo” de Helvécio Ratton, expôs para o mundo os vários problemas que os queijeiros enfrentavam: legalização e buRRocratização do setor, concorrência com grandes indústrias, queda dos preços, aumento de impostos, etc.
O documentário destacou ainda um ponto da legislação que não permitia que o queijo feito em Minas através do leite cru (e não pasteurizado) saísse do estado. Nota: Se vire e dê um jeito de assistir “O Mineiro e o Queijo” são 70 minutos de puro ❤ e poesia!
Foi nesse cenário turbulento que as empresas e associações que citei no início do texto e mais tantas outras se uniram em prol da causa para defender essa belezura que é este queijo.
O Queijo Canastra
Há pelo menos 200 anos este queijo é produzido e, para que ele receba este nome, algumas características devem ser atendidas.
As principais são que o tom da casca e o interior devem ser amarelados e a massa deve ser lisa com poucas olhaduras (aqueles furinhos que alguns queijos tem).
O ideal é que ele seja curado pelo menos 21 dias antes de ser vendido e, quanto mais tempo de maturação, mais amarelado ele vai ficar e muito mais gostoso também. E claro, o preço também aumenta, passando de R$20/KG chegando até R$40.
E vou te falar, os mais curados esse são os melhores, comi um lá do produtor Paulo Matos com 4 meses de cura que podia competir muito bem com qualquer Grana Padano italiano que já comi por aí. Dá só uma olhada:
Nem tudo está resolvido por lá, apesar da região ter quase 800 produtores, apenas 41 tem registro no IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária para venderem seus produtores por todo o Brasil. Isso porque para ter o registro é necessário o pagamento de diversas taxas para regulamentação, adequar a produção à legislação sanitária e ter a “queijaria” ou a famosa Casa do Queijo.

Allan da Família Queijo Dinho literalmente com a mão na massa; queijaria da Fazenda Boa Vista e abaixo o produtor Reinaldo da Fazenda Capivara mostrando suas crias
Maaaaas nem tudo está perdido! Se o produtor não tem $$$ para a queijaria e tiver tudo ok com a legislação, eles podem utilizar a casa de queijo coletiva da APROCAME e distribuir e vender seus queijos lindamente.
É incrível o trabalho de resgate da cultura que todos, iniciativa privada e pública, tem feito por lá. Pensar que há poucos anos tudo estava desandando, ninguém queria mais vender queijo ou quando vendia, era só o frescal por um preço irrisório (R$8). Agora todos estão voltando à produção, se unindo e desenvolvendo este mercado que ainda tem muita a crescer! O brilho nos olhos e o orgulho que cada produtor tem, foi algo que emocionou muito e me motivou a valorizar ainda mais nossa Minas Gerais.
E você, #PartiuComerQueijoCanastra para sempre?
Abraços de comedor de queijo,
Felipe Tavares
Fontes de pesquisa:
– “O mineiro e o queijo” – Helvécio Ratton
– “Queijo da Canastra com status gourmet” – matéria do jornal Estado de Minas de Paulo Henrique Lobato
– “Caracterização do Queijo Minas Artesanal da Serra da Canastra” – documento redigido pela APROCAN
No Youtube se consegue assistir ao documentário completo. Realmente é pura poesia, principalmente as falas do Zé Mario. Abraços caro Felipe.
Nóoo, eu não sabia, valeu demais, Leo!
Ai pessoal, quem quiser assistir:
Comentei hoje com uma amiga que pão de queijo de verdade só se for feito com queijo canastra curado, o resto é pão de polvilho. E é foda porque você só encontra esse queijo em BH em mercados, como o Central que eu boicoto por conta da ala de venda de animais. Queijo canastra é puro amor, pura mineirice! ❤
Pura verdade, Adriana! É amor demais mesmo!
Comi cada pão de queijo lá que cheguei a pensar que nunca havia comido um “de verdade” antes.
Os produtores de lá estão começando a vender queijos via correio e em outras lojas. Na rua Pouso Alegre, 1076 no Floresta, vc encontra alguns produtos!
bjos
Nó, vou lá comprar essa semana. Valeu pela dica! Beijos!